Projeto Raízes da Gente

Projeto Raízes da Gente
Projeto Raízes da Gente - Cantagalo: 200 anos fazendo história e cultivando valoreCantagalo traz em seu nome a história de sua fundação. Vilarejo que cresceu sinuoso com as lavras de ouro em um riacho, cercado de lendas e disputas. Vila que assentou e expandiu entre os limites da mata selvagem e a riqueza do café. Cidade lapidada por seus 200 anos de história. Em nossa cidade há muitos ingredientes diferentes que conferem à sua gente e à sua história matizes de cores, sabores, sons, letras e ciência. A riqueza dos barões, que edificou o precioso patrimônio das fazendas de café, através da lida do povo negro, trazido para nossa região como escravos. As várias levas de imigração, que trouxeram os suíços, os libaneses, os italianos... acrescentando inúmeros traços à cultura local e à feição do nosso povo. Personalidades da Literatura e das Ciências, como Euclides da Cunha, Rodolpho Albino e Chapot Prevost, nasceram em nosso solo e, como nós, são raízes na mesma história. Assim como eles, cada pessoa que nasceu ou escolheu Cantagalo como sua terra, finca raízes, constrói a história e frutifica vivência e saberes.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Expedição de Euclides da Cunha ao Rio Purus

A expedição de Euclides da Cunha ao rio Purus

A Expedição
Em 1904 Euclides foi nomeado pelo Barão do Rio branco, chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento do Alto Purus, tendo como função elaborar um mapeamento cartográfico das cabeceiras do rio Purus, auxiliando, assim, na definição das fronteiras do Brasil com o Peru. Euclides partiu com a missão de assessorar a diplomacia dos dois países, já que a área era palco de conflitos entre tropas peruanas e seringueiros brasileiros. No entanto, para Euclides da Cunha, o mais importante era conhecer profundamente o Brasil e desvendar em sua mente a “terra sem história”.
Em janeiro de 1905 Euclides partiu para a Amazônia, chegando à foz do Rio Amazonas e passando pela cidade de Belém, antes de chegar à Manaus onde permaneceu 3 meses à espera de que a equipe peruana estivesse pronta para partir rumo ao Purus.
Com o atraso da viagem, a expedição partiu na época da vazante do rio, o que acarretou muitos problemas de navegação. Entre estes problemas podemos citar o fato de terem que abandonar as lanchas a vapor, tendo que fazer até mesmo parte do percurso a pé, arrastando canoas (principalmente próximos às cabeceiras do Purus , quando tiveram que transportar por cerca de 70 cachoeiras arrastando as canoas), o naufrágio do barco com os víveres e a desistência de muitos homens, até por questão de saúde. Ao final, Euclides precisou obrigar os que permaneceram com ele a seguirem até o final, fazendo uso de sua autoridade de chefe da expedição.
Euclides voltou ao Rio de Janeiro no inicio de 1906, com a saúde debilitada por contrair malária na Amazônia, somando-se à sua saúde já precária devido à tuberculose contraída na infância. O reconhecimento hidrográfico e os mapas produzidos por Euclides na expedição permitiram ao Barão do Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores, resolver, em 1909, as questões de fronteira com o Peru.


As impressões de Euclides sobre a Amazônia – Fragmentos dos escritos amazônicos
(Destacamos alguns fragmentos de textos – que constam em “A margem da História” - que nos permitem ver a Amazônia pelo olhar de Euclides da Cunha)

1- (...) “Toda a Amazônia, sob este aspecto, não vale o segmento do litoral que vai de Cabo Frio à Ponta do Munduba.”
É, sem dúvida, o maior quadro da Terra; porém, chatamente rebatido um plano horizontal, que mal alevantam de uma banda, à feição de restos de uma moldura que se quebrou (...)”
2- “A impressão dominante que tive, e talvez correspondente a uma verdade positiva, é esta: o homem, ali, é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido — quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão. E encontrou uma opulenta desordem...”
3- “O rio, multífluo nas grandes enchentes, vinga as ribanceiras e desafoga-se nos plainos desimpedidos. Desarraiga florestas inteiras, atulhando de troncos e esgalhos as depressões numerosas da várzeas; e nos remansos das planícies inundadas, decantam-se-lhe as águas carregadas de detritos, numa colmatage plenamente generalizada. Baixam as águas e nota-se que o terreno cresceu; e alteia-se de cheia em cheia, aprumando-se as “barreiras” altas, exsicando-se os pantanais e “igapós”, esboçando-se os “firmes” ondeantes, para logo invadidos da flora triunfal... Até que num só assalto, de enchente, todo esse delta lateral se abata.”
4- Diante do homem errante, a natureza é estável; e, aos olhos do homem sedentário, que planeie submetê-la à estabilidade das culturas, aparece espantosamente revolta e volúvel, surpreendendo-o, assaltando-o por vezes, quase sempre afugentando-o e espavorindo-o.

5- “Realmente, o Purus, um dos mais tortuosos cursos d’água que se registram, é também dos que mais variam de leito. Divaga consoante o dizer dos modernos geógrafos. A própria velocidade diminuta, que adquiriu e vai decrescendo sempre até ao quase rebalsamento, nas cercanias da foz, aliada à inconsistência dos terrenos aluvianos, formados por ele mesmo com os materiais conduzidos das nascentes, determina-lhe este caráter volúvel. Às suas águas, derivando em correntezas fracas, falta a quantidade de movimento necessária às direções intorcíveis. O mínimo obstáculo desloca-as. Um tronco de samaúma que tombe de uma das margens, abarreirando-se ligeiramente, desvia o empuxo da massa líqüida contra a outra, onde de pronto se exercita, menos em virtude da força viva da corrente que da incoerência das terras, intensíssima erosão de efeitos precipitados.”
6- “Entre um curso d’água e outro, a faixa da floresta substitui a montanha que não existe. É um isolado. Separa. E subdividiu, de fato, em longos caminhos isolados, as massas povoadoras que demandaram aquela zona.
Viu-se então, de par com primitivas condições tão favoráveis, este reverso: o homem, em vez de senhorear a terra, escravizava-se ao rio. O povoamento não se expandia: estirava-se .
Progredia em longas filas, ou volveria sobre si mesmo sem deixar os sulcos em que se encaixa tendo a imobilizar-se na aparência de um progresso ilusório, de recuos do aventureiro que parte, penetra fundo a terra e, explora-a e volta pelas mesmas trilhas” (...)
7- “Os torcicolos, impostos pelas linhas mais altas das pequenas vertentes deprimidas, sente-se um estranho movimento irrequieto, de revolta. Trilhando-os(*), o homem é de fato, um insubmisso. Insurge-se contra a natureza carinhosa e traiçoeira, que o enriquecia e matava.”
(*) varadouros - atalhos, por terra, de um braço do rio ao outro

Conclusão

Baseando-nos nas citações acima, selecionadas de fragmentos de textos de “A Margem da História”, de Euclides da Cunha, podemos concluir que ao longo de sua expedição ao Rio Purus, por conta de inúmeros acontecimentos, Euclides da Cunha consolidou sua opinião a respeito da região em função de sua adaptação à paisagem e ao estilo de vida local. O seu objetivo principal, que era conhecer e analisar a região e os homens que lá viviam, manteve-se constante, o que nos permite conhecer um pouco da Amazônia através de seus textos.


Texto elaborado pelos alunos Gabriel Monnerat, Guilherme Marini, Matheus Gomes e Walmick Jr., do 3º ano do Ensino Médio,
complementando a apresentação do trabalho “Expedição de Euclides da Cunha ao Rio Purus”, apresentado no II Seminário sobre Questões Ambientais – Verdes Caminhos de Euclides da Cunha, no Colégio Euclides da Cunha, junho de 2009.





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